Na sexta-feira (31), antes de encerrar a 4ª Conferência Nacional de Formação, que teve como objetivo construir uma nova proposta para a Política Nacional de Formação (PNF), todos os seis sindicalistas que passaram pela Secretaria Nacional de Formação da CUT (SNF/CUT) foram homenageados pela construção e trajetória da PNF nestes 35 anos da Central. Cada um e cada uma falaram sobre seus legados para a história da CUT.
Para a Secretária-Geral adjunta da CUT, Maria Faria, é muito importante ouvir todos e todas dirigentes que passaram pela formação, porque é ouvir a história e reproduzi-la para que as pessoas possam saber que para chegar até aqui teve uma construção coletiva.

“Ouvir a história e valorizar o que conquistamos é ter certeza que estamos no caminho certo e que apesar dos ataques a gente precisa avançar e a formação é importante para isso, para nos fortalecer para o momento que estamos vivendo para compreensão e seu papel histórico na luta pela classe trabalhadora”, afirmou Maria.
A atual secretária de Formação da CUT, Rosane Bertotti, que está na pasta desde 2015, disse que cada um e cada uma deles contribuíram de sua maneira para fortalecer a pasta e a PNF. Bertotti lembrou o desafio que foi colocar a PNF em prática a partir da fundação da CUT e destacou alguns projetos atuais da Central para formar os trabalhadores e as trabalhadoras.
Ela citou o FDA, o programa de gestão e finanças, o projeto Formigueiro, uma referência como metodologia e construção, e destacou o uso da plataforma digital compartilhada da formação da CUT, como ferramenta de educação digital e o uso da tecnologia na central.

“A rede nacional de formação ousou em fazer um projeto de formação em plataforma digital”, disse Bertotti, que destacou que “o fortalecimento das escolas, a unidade da equipe nacional de formação em oficinas nacionais, a consolidação da rede de formação da Central Sindical das Américas (CSA) são fundamentais para o trabalho da Secretaria de Formação da CUT”.
Experiências dos ex’s
Ana Lúcia da Silva, que dirigiu a Secretaria entre os anos 84 e 86, lembrou de quando ela chegou na executiva da CUT e mostrou para a classe trabalhadora que a mulher negra e periférica pode estar onde quer estar. Depois, a ex-secretária de Formação da CUT contou os momentos em que viveu na Central, como o primeiro encontro de mulheres para construir a secretaria da Mulher Trabalhadora.

O ex-secretário de Formação da CUT, de 1986 a 1994, Jorge Lorenzetti, afirmou a importância da formação no surgimento do novo sindicalismo, no pós-ditadura militar, e para o avanço da redemocratização do país. E sobre os desafios atuais, ele também destacou as transformações no mundo do trabalho, com avanços das políticas neoliberais e a indústria 4.0, que exige uma nova capacitação para os operários e as operárias.
Para Jorge, não dá para imaginar o Brasil sem a CUT e sem a Política Nacional de Formação (PNF). “É uma política essencial para a CUT exercer o seu papel. Todos os períodos foram importantes para construir uma política que não fosse temporária e sim estratégica e permanente para contribuir com os desafios da CUT e com o projeto de Brasil que queremos. A formação deu e dá uma contribuição fundamental para este protagonismo da central”.

Altermir Antônio Tortelli, secretário de Formação de 1997 à 2003, lembrou de duas outras Conferências, as de 1999 e 2002, que aconteceram no mesmo lugar que a de 2019 e afirmou que tem boas lembranças dos encontros. Segundo ele, “foram momentos importantes para avaliação e debates sobre a conjuntura política e para repensar a CUT”.
Tortelli também comparou o governo da época com o atual. “Talvez os dos anos 90 e 2000 foram menos violentos e com métodos diferentes, mas a visão de governo de um Estado mínimo, a globalização e a relação com os trabalhadores são parecidas com hoje”.
“Tivemos um debate de qualificação como trabalhar esta multidão que não tinha carteira assinada, que não estava ligada ao sindicato e desafiamos incorporar a educação, nos preparando e contribuímos de forma decisiva para a construção histórica da CUT”.

A ex-secretária de Formação da CUT no período de 1994 a 1997, Mônica Valente, lembrou que quando ela assumiu a classe trabalhadora vivia num período de forte implantação do processo neoliberal, da automação, que hoje enfrenta de novo, com a indústria 4.0.
“Optamos, em 1983, por criar uma Central que não só unificasse as lutas, mas que também buscasse fazer um projeto para o país, como uma Central autonoma mas, ao mesmo tempo, com uma profunda identidade de um projeto classista de sociedade. A Política Nacional de Formação surgiu com o papel de contribuir neste debate, nesta reflexão, de ajudar a classe trabalhadora a pensar este projeto de classe”, explicou Mônica.

“A PNF sempre foi estratégica para a Central. Estávamos rompendo com o sindicalismo antigo, que não construía a unidade de classe. A PNF foi concebida como política estratégica e virou referência mundial muito cedo, porque sempre buscou formar pessoas autônomas, com capacidade crítica, de reflexão, buscando construir uma sociedade libertadora, sem opressores e oprimidos.”
José Celestino de Lourenço, o Tino, que foi secretário de Formação da CUT no período de 2003 a 2015, lembrou da 2ª Conferência, em 2002, também realizada em Minas, quando os recursos públicos estavam escassos, porque houve contingenciamento. Tino disse que a medida causou impacto nas escolas, mas a CUT atuou em várias políticas públicas, como Pronatec e outros projetos.

“Realizamos o projeto de alfabetização de jovens e adultos e atingimos 250 mil pessoas no Brasil, de todas as categorias e a iniciativa da CUT foi reconhecida pela Unesco”, afirmou Tino.
“Estas experiências foram essenciais, na perspectiva do letramento, em muitas comunidades pobres que se organizaram e, desta forma, a classe trabalhadora conseguiu, por exemplo, saneamento básico, participação no 1º de Maio e nas paralisações e mobilizações que a CUT convocava”, lembrou Tino.
“A Política Nacional de Formação é permanente. Nós passamos por ela, e outros virão. Mas ela seguirá permanente, porque é feita por um coletivo. É correta e indelegável. Este coletivo sabe como fazer formação. A formação da CUT é maravilhosa, pois conseguimos fazê-la por intermédio da leitura da realidade, pelo processo que estamos vivendo, sem esquecer do passado. Tudo de acordo com a conjuntura que vai mudando”.